

História
Vila Adentro
Este espaço, agora conhecido como restaurante, esconde camadas - roupagens e usos, que se foram substituindo e renovando ao longo do tempo. Munamo-nos de um olhar subterrâneo para desvendar essas camadas, começando, precisamente, no subterrâneo do Vila Adentro, lugar hermético que esconde um túnel. Pensá-lo e situá-lo são tarefas que colocam ao nosso dispor duas vias: uma Histórica, outra Romântica e construída por força da dedução. À luz da Arqueologia, é confirmado que a casa remonta ao século XV. A essa evidência junta-se o facto de, depois do Terramoto que devastou Portugal em 1755, a casa ter sido reconstruída e ampliada. Apesar dessa reconstrução, há hoje restos que se mantiveram, congelados no tempo e no espaço: a porta da confeitaria que encontramos hoje no Vila Adentro, correspondeu, outrora, à original da casa. A par disso, também a madeira e a tinta se mantêm as originais, o que significa que comportam já, pelo menos, meio milénio.
Se optarmos pela via romântica, entraremos num universo de mitos e lendas mais ou menos fundadas: diz-se que o edifício do Vila Adentro terá servido de quartel general durante a ocupação dos mouros na cidade velha, até por volta de 1248, servindo o túnel como lugar de fuga, quando a cidade estivesse cercada.
Faro entre os sécs. V e VIII a.C.
Não existe, para a teoria, documento que a prove. Resta-nos aceitá-la como imagem ao serviço da fertilização do nosso imaginário.
Além disso, chega a ser redutor associar o lugar apenas ao povo árabe: na verdade, há neste túnel vestígios de arquitetura romana. Uma vez que o povo romano ocupou Faro entre os sécs. V e VIII a.C., antecedendo o árabe, tal significa que o túnel poderá anteceder o tempo que comummente lhe é atribuído.
De camada em camada, até 2014
No exterior do Vila Adentro, lê-se “Galeria Vila Adentro” – expressão que não é inócua, mas sim detentora de uma carga simbólica. Afinal, a primeira atividade comercial que decorreu no edifício tratou-se de Casa de Artesanato, a qual servia também de taberna que seduzia os pescadores que passavam a beber um copo de vinho, a comprar óleo – combustível para os barcos, trocando, por vezes, esse óleo por peixe.
Mais tarde, a casa de artesanato deu lugar a um antiquário, dirigido por um pintor e dava formação e apoiava artistas que iam brotando na cidade.
Entre os anos 80 e 90
Entre os anos 80 e 90, funcionou como Casa de Azulejos Constância, na qual se pintavam e cosiam os azulejos – dos quais muitos forram ainda as paredes do Vila Adentro. Após o término da Casa de Azulejos, em 1994, a nova lufada deu-se em 2002, quando se tentou transformar o espaço – projeto que acabou por sucumbir em 2005.
De fé entorpecida pelas gentes que aspiravam por rápidos negócios sem dar voz e valor à História do lugar, o proprietário da casa abrandou os alugueres nos 10 anos seguintes. Foi então que, em 2014, coube a Pedro Alves o estímulo de resolver a lacuna da falta de conhecimento da população local em relação ao valor histórico daquele Lugar que transformou em Restaurante, num esforço por conciliar a História, o Património e a Gastronomia – uma tríade que perdura, até hoje.